Ele adentrou minha sala no dia do seu aniversário. Me chamando pelo nome sem saber quem eu era, haviam indicado que me procurasse. Mas eu o reconheci no primeiro olhar...Não sabia ele que em outras décadas fez muitas fotos dos casamentos que levei as alianças. Ele foi fotógrafo quando quase ninguém tinha uma câmera e o celular ainda não havia sido inventado. Fotografia era artigo de luxo. Fazia daquelas fotos das pessoas que vem no studio e principalmente de família em festas de casamento, colocava em uma pasta para entregar aos clientes. As fotos eram esperadas meses até e quando chegavam tinha evento para apresentar aos amigos. Fiquei emocionada ao revê-lo e senti aquela alegria que sinto diante de quem tem sensibilidade e gosta do que faz. Nossa, hoje eu senti cheiro de infância naquele olhar. Ele chegou assustado e revelou na primeira frase que estava nervoso. Veio para me contar de um acidente, havia se envolvido por falta de atenção, foi logo assumindo a culpa do sinistro e bateu com um veículo da empresa que segundo ele estava tão bonitinho. Perguntei se alguém havia se machucado, ele me confidenciou que não, mas que queria pagar o estrago. Procurei acalmá-lo e puxar uma prosa. Ele aceitou sentar. Lhe contei a minha origem ele tinha uma bela história sobre o meu lugar, fez uma visita no século passado a mais de sessenta anos, foi lá, quando tudo era muito mais coberto de verde e fotografou pessoas que precisavam de um título de eleitor. Não tinha preferência mas foi com um dos candidatos a prefeito, seu amigo, o pobre que ganhou a eleição. O outro, também era seu amigo e ele não sabia qual era o melhor.
Que pessoa adorável!
Parabenizei-o por seus oitenta e oito anos completados hoje e por pouco não pedi:
- Fica um pouco mais, quero tanto conversar contigo e saber das tuas histórias.
Ele se foi com toda a sua doçura e com seu olhar sensível que já não percebe mais a existência de um ônibus na manobra do dia-a-dia.
Fiquei tão grata por poder conversar um pouco, fará parte das minhas doces memórias.
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